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Carbono: a nova receita para o produtor rural

Escrito por Indigo Agriculture | Oct 15, 2025 3:09:47 PM

Por Guilherme Raucci, gerente de desenvolvimento de negócios da Indigo para a América Latina. 

A pauta da sustentabilidade e das mudanças climáticas deixou de ser um tema distante para se tornar o centro da agenda do agronegócio. E, nesse cenário, o carbono emerge não apenas como um desafio ambiental, mas como uma promissora fonte de novas receitas para os produtores rurais. É uma virada de jogo que precisamos entender e abraçar.

Presente na atmosfera, o dióxido de carbono (CO₂) é o principal gás de efeito estufa de origem humana. Suas emissões são impulsionadas por atividades como o uso de combustíveis fósseis e o desmatamento. A boa notícia é que a agricultura tem um grande potencial para atuar como um sumidouro de carbono, ou seja, capturar e armazenar esse gás no solo e na vegetação. 

Com as práticas corretas, podemos transformar o campo em um grande aliado na redução do efeito estufa. Para navegar por essa dinâmica, é fundamental conhecer os Escopos de Carbono, uma classificação estabelecida pelo GHG Protocol (Greenhouse Gas Protocol) em em escopos 1, 2 e 3. O protocolo foi lançado em 1998 como uma iniciativa do World Resources Institute (WRI) e do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), e a primeira padronização oficial dessa classificação ocorreu em 2001. S​​​​implificadamente, temos:

  • Escopo 1 – Emissões Diretas: são aquelas geradas pelas atividades próprias do produtor, como a queima de combustíveis em tratores, as emissões do solo pelo uso de fertilizantes nitrogenados e as emissões da pecuária.
  • Escopo 2 – Emissões Indiretas de Energia: relacionam-se às emissões indiretas de gases de efeito estufa (GEE) resultantes do consumo de energia adquirida por uma empresa, como eletricidade, vapor, calor e refrigeração, que é gerada por um fornecedor externo. Embora as emissões ocorram nas instalações do fornecedor, estas são atribuídas à empresa consumidora porque são parte do gasto energético da sua operação, e são contabilizadas no inventário de carbono da organização.
  • Escopo 3 – Emissões Indiretas na Cadeia de Valor: este é o escopo mais abrangente, incluindo todas as emissões indiretas, desde a produção de insumos e matérias-primas até o transporte e a distribuição dos produtos. É aqui que reside uma enorme oportunidade para o agronegócio.

Para que as empresas avaliem o impacto climático de maneira completa, é fundamental que meçam não apenas as emissões provenientes de suas operações diretas, mas também aquelas geradas pelas matérias-primas que adquirem e pelo uso dos produtos que comercializam.  No caso de grandes empresas de alimentos e bebidas, por exemplo, a aquisição de matérias-primas agrícolas representa a maior parcela das emissões de Escopo 3. Isso significa que o produtor rural tem um papel estratégico.

Ao adotar práticas agrícolas sustentáveis – como o uso eficiente de fertilizantes e biológicos de alta performance, a rotação de culturas, o uso de plantas de cobertura e o plantio direto – o produtor não só reduz suas próprias emissões, mas também contribui diretamente para as metas de sustentabilidade de toda a cadeia.

Na Indigo, por exemplo, operamos globalmente com modelos que conectam o produtor a esse mercado. Nossas ações nos Estados Unidos nos colocou como a maior geradora de créditos de carbono globalmente. Aqui no Brasil, implementamos o programa Source, que se liga diretamente à cadeia de fornecimento de empresas com compromissos climáticos. O funcionamento é simples e eficaz:

Empresas do setor agro, como as de alimentos e bebidas, firmam parceria conosco para fomentar a adoção de práticas regenerativas em suas cadeias de produtores. Nós estabelecemos programas incentivados, onde práticas como plantio direto, uso de plantas de cobertura e rotação de cultivos são determinadas. Nosso trabalho é quantificar o benefício ambiental dessas ações, medindo a redução no impacto ambiental. Depois, transferimos esses resultados para que as empresas possam reportar em seus compromissos de sustentabilidade, e o produtor é remunerado por seu impacto positivo.

Este modelo inovador de remuneração, baseado em um processo estruturado de Medição, Reporte e Verificação (MRV), garante que o produtor seja reconhecido economicamente por suas práticas regenerativas. Isso contribui diretamente para as metas ESG (Ambiental, Social e Governança) das empresas que buscam mitigar suas pegadas de carbono no Escopo 3. Diferente do modelo de créditos de carbono tradicional, aqui valorizamos o impacto real das ações do produtor, safra a safra, promovendo uma cadeia mais sustentável e rentável.

Perspectivas futuras: Brasil como protagonista

As oportunidades de valorização da produção agrícola estão intrinsecamente ligadas à adoção de práticas regenerativas e sustentáveis. A agricultura regenerativa não só traz ganhos de produtividade e eficiência, tornando a produção mais lucrativa, mas também abre portas para mercados que valorizam produtos com menor impacto ambiental, muitas vezes pagando prêmios por essa diferenciação.

Nesse contexto, o Brasil tem a chance de se tornar um protagonista mundial na oferta de carbono de alta qualidade de Escopo 3, apoiando empresas globais em suas metas climáticas e criando uma nova fronteira de valor para o nosso setor agrícola. Não estamos falando de um futuro distante, mas de uma realidade que já começa a se desenhar. 

Diferente do modelo que já é sucesso nos EUA, por aqui, no Source, não há dependência da venda de créditos de carbono ​no mercado,​​  ​mas sim a medição do impacto real das ações do produtor​ safra a safra​, valorizando o seu esforço e promovendo uma cadeia mais sustentável e rentável. E a remuneração dos produtores será realizada ainda na safra de 2025. É um primeiro passo de muitas outras iniciativas que virão. Cuidar do nosso solo e do nosso planeta é, mais do que nunca, um excelente negócio.