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    Episódio 13: Estratégias para aumentar a produtividade da lavoura

    O Minuto Agro é o Podcast do Agro.

    No episódio novo do Minuto Agro falamos sobre algumas estratégias para aumentar a produtividade da lavoura em diferentes estágios do cultivo. Nosso convidado do 13º episódio é o Professor Doutor e Engenheiro Agrônomo Elmar Luiz Floss, atualmente diretor do Instituto Incia, de Passo Fundo (RS), especialista em fisiologia vegetal, nutrição de plantas e manejo de culturas de lavoura.

    Transcrição

    Aline Araújo: Olá, sejam bem-vindos a mais um episódio do Minuto Agro: é questionando que evoluímos, o podcast da Indigo. Eu sou Aline Araújo, head de Comunicação da Indigo e esse é o espaço para você ficar atualizado sobre o que acontece no agronegócio no Brasil e no mundo. No episódio de hoje, vamos abordar algumas estratégias que ajudam o produtor a aumentar sua produtividade nas diferentes fases do cultivo.

    Para conversar sobre o assunto com a gente, hoje temos a participação do professor Elmar Luiz Floss, engenheiro agrônomo licenciado em Ciências e Doutor em Agronomia pela Esalq, professor e pesquisador aposentado pela UPF e, atualmente, professor e diretor do Instituto INCIA - Passo Fundo e especialista em Fisiologia Vegetal, Nutrição de Plantas e Manejo de Culturas de Lavoura. Sejam muito bem-vindos ao nosso podcast Minuto Agro. Professor Luiz, seja muito bem-vindo.

    Elmar Luiz Floss: Olá, Aline. Obrigado pelo convite. É um prazer estar contigo aqui nesse podcast pra gente falar de assuntos importantes do agronegócio, desmistificar alguns, esclarecer outros pontos que sejam importantes para os nossos ouvintes.

    Aline Araújo: Para começar o nosso bate-papo, eu queria que o senhor contasse um pouquinho para quem está nos ouvindo sobre a sua trajetória e história de trabalho, e como ela está relacionada com o tema de hoje do nosso podcast.

    Elmar Luiz Floss: Como você já apresentou aí, eu me formei em Agronomia na Universidade de Passo Fundo, em 1975 e, paralelamente, cursava licenciatura em Ciências. De 1976 a 2009, fui professor na Faculdade de Agronomia da Universidade de Passo Fundo, nessas áreas que você já citou: Bioquímica Vegetal, Fisiologia Vegetal, Nutrição de Plantas e também Manejo de Culturas de Lavoura, na época, chamava-se Agricultura Especial. E, nesse período, também dei aula nos cursos de mestrado e doutorado, a partir de 2006. Tive vários cargos administrativos: fui vice-diretor 4 anos da faculdade, 4 anos diretor, fui 4 anos chefe do departamento, fui vice-reitor administrativo da Universidade de Passo Fundo e coordenei a comissão de implantação dos primeiros cursos de Mestrado em nossa faculdade. Em 2009, me aposentei na universidade e aí criei o Instituto de Ciências Agronômicas Prof. Elmar Floss, no qual eu ofereço cursos de pós-graduação. Já abrimos 39 turmas de 2010 até 2021. Também dou consultoria, palestras, assessorias e esse é o trabalho que a gente vem desenvolvendo no agro, com muito entusiasmo e, principalmente, estimular essas grandes mudanças que vêm ocorrendo nos últimos anos.

    Aline Araújo: Para o ciclo 2021/2022, a estimativa era de que o Brasil alcançasse uma safra de 295 milhões de toneladas, mas a realidade foi um pouco diferente, certo? Como eram, a princípio, as expectativas de resultado para essa safra?

    Elmar Luiz Floss: Aline, na verdade, a estimativa da produção total de grãos no Brasil era de 295 milhões e a soja seria de 142. Mas, vamos ter, infelizmente, perdas aí na safra brasileira, em função dessa estiagem muito severa, que pegou parte do Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mas, ainda assim, foi espetacular o crescimento da produção brasileira de soja, se tornando a primeira cultura em área. São previstos para esta safra 40 milhões de hectares cultivados. A cultura é a maior produtora de grãos entre todas as culturas produtora de grãos alimentícios e aquela que gera mais divisas pela exportação de grãos e seus derivados, mas indiretamente também, graças à disponibilidade de farelo de soja, da proteína do farelo de soja combinado com o milho, o Brasil bate recordes anuais na exportação de carne de frango e carne suína. Agora, como é que nós evoluímos, especialmente esse grande salto, a partir dos anos 2000? Isso se obtém na medida que o produtor vai melhorando, gradativamente, as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, porque esse é o maior patrimônio de um agricultor, ou seja, ter um solo descompactado, um solo com alta capacidade de armazenamento de água quando chove, para ter água quando não chove, de armazenamento de ar, que é fundamental para o sistema radicular. Um solo com Ph corrigido, entre 6 a 6,5, uma saturação de base, dependendo da região, acima de 50% nos solos arenosos, acima de 70%, nos solos argilosos. Também com um bom teor de matéria orgânica, que continua crescendo, nutrientes disponíveis e agora, principalmente também, as propriedades biológicas do solo. Estamos entrando na era do uso dos biológicos, dos indutores de defesa. Bom, feito essa base, a escolha do melhor cultivar para aquela região, para aquela época de semeadura, para aquele nível de tecnologia utilizado. Agora, como é que a genética chega na lavoura? Via semente. Então, o uso de sementes de qualidade, sementes de vigor - a qualidade fisiológica mais importante, uma semente bem tratada com inseticida, com fungicida, uma boa qualidade da semeadura, a implantabilidade bem feita, uma nutrição adequada. Não existe cultivar milagroso, se não tiver disponibilidade de nutrientes. Então, isso tem que ser calculado adequadamente, em função do nível de produtividade e da disponibilidade que tem no solo. Um rigoroso controle de plantas daninhas, de doenças e de pragas, porque senão esses fatores sanitários levam uma fatia daquele potencial de rendimento estabelecido. E, é claro, a agricultura é uma indústria de céu aberto, sujeita à variação climática, que é instável, certo? Então, precisamos também cada vez mais nos preocuparmos com a adoção de tecnologias de manejo, para minimizar esses estresses abióticos que ocorrem com tanta frequência, em alguns anos numa região sul, outros anos aí na região central e que têm tirado muito da renda dos produtores.

    Aline Araújo: Essa explicação que o Sr. deu, ela abriu aqui várias perguntas na minha cabeça. Vamos começar falando a respeito do clima, com o exemplo que o Sr. trouxe a respeito da quebra de safra que a gente vai ter, o impacto aí que gerou na safra no sul. O clima, de fato, ele interfere diretamente na produtividade de uma lavoura. De que forma é possível utilizar análise de dados históricos para o planejamento do plantio em busca de uma maior eficiência?

    Elmar Luiz Floss: Bom, hoje, mesmo os prognósticos climáticos sendo prognósticos, nós temos hoje uma assertabilidade muito maior do que tínhamos há uns anos atrás, em função desta enorme quantidade de institutos de monitoramento das temperaturas, especialmente das temperaturas dos oceanos, porque afinal eles cobrem dois terços do globo terrestre. Então, por exemplo, essa estiagem aqui no sul do Brasil, ela vem sendo prognosticada desde julho e agosto, porque as temperaturas das águas do Oceano Pacífico Equatorial, quer dizer praticamente sobre Equador e, principalmente, da influência do litoral do Peru, elas estavam baixas, consequentemente uma menor evaporação e, aí isso afeta sempre o sul do Brasil. Chove muito aí no Brasil Central, mas tem escassez de chuva. Só que a chuva não depende só disso, a chuva também depende das massas polares que vêm do Sul, que vêm principalmente do aquecimento das águas do Oceano Pacífico Sul, e também do aumento da temperatura das águas do Oceano Atlântico, principalmente aqui no litoral do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, parte do Paraná. Então, na outra safra, nós já tínhamos La Niña, mas tivemos uma colheita muito boa, porque apesar de não termos aquelas chuvas que vêm desta região norte do Brasil, que é da região amazônica, a evaporação da Amazônia, é claro que não é a evaporação, principalmente das águas do Oceano Atlântico aquecida, nós fomos salvos porque a temperatura das águas do Oceano Pacífico Sul e, principalmente, do Atlântico era maior, então havia geração de vapor e fomos salvos. Bom, o que nós devemos fazer? Irrigação. Mas a irrigação tem limitação, não podemos fazer isso em todas as áreas, ou porque não tem disponibilidade de água, ou porque não tem energia elétrica disponível para o produtor, ou a topografia impede que se faça irrigação, ou até mesmo o agricultor que, na maioria dos casos, ele não tem recursos para esse investimento. Então, para essas estiagens longas, realmente a irrigação seria a única solução. E ela não é uma solução universal. Hoje, na soja, ela é feita em aproximadamente 3% da área brasileira apenas. Agora, para curtos veranicos, que também são frequentes, aí nós temos algumas técnicas para minimizar, como fazer uma boa cobertura antes da semeadura da soja, para que haja maior infiltração de água, a palhada clara diminui a evaporação e as perdas de água, quando para de chover, são menores, um solo bem estruturado para que a planta possa aprofundar o seu sistema radicular, porque aí ela busca água em profundidade, isso é, o uso de cultivares de alto vigor, com uma boa qualidade de semeadura, sementes bem tratadas para que os patógenos e as pragas de solo não destruam as raízes. Então, nós temos uma série de tecnologias de manejo que nós podemos ajudar a planta a formar um sistema radicular mais profundo e isso minimiza os seus efeitos. E, de outro lado, aumentar a capacidade de água no solo através da melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas dos mesmos.

    Aline Araújo: Um outro ponto que o Sr. citou foi a respeito de novas tecnologias que, de fato, são aliadas no aumento da eficiência na produção e na redução do impacto ambiental. O Sr. também trouxe aqui o ponto a respeito dos manejos biológicos, que eles são uma grande crescente no mercado brasileiro. A adoção deste tipo de produto gera impacto na produtividade dos cultivos?

    Elmar Luiz Floss: Sem dúvida, sem dúvida. Então, veja, tradicionalmente na cultura da soja, o agricultor desde os anos 1960, aqui no Rio Grande do Sul, ele começou a inocular a semente com, antigamente, Rhizobium japonicum, hoje Bradyrhizobium japonicum, Bradyrhizobium elkanii, que tem a função de aumentar a fixação biológica de nitrogênio. A soja é a nossa cultura econômica mais importante, é o grão de maior valor nutritivo produzido em grande quantidade, a quarta cultura mais importante do mundo. Mas, é uma cultura altamente ecológica, porque ela produz isso tirando 50% da biomassa seca do ar com o CO2, como qualquer cultura faz, e a soja é a cultura mais exigente em nitrogênio, de todas as culturas as culturas produtoras de grão. Em média e baseado aí em 11, aliás, em 12 trabalhos feitos de extração e exportação de nutrientes, dá uma média de 80 kg de N necessários para produzir uma tonelada, e 85% pode vir da fixação biológica. Então, isso é uma coisa extraordinária, sob o ponto de vista econômico, já que o nitrogênio é um fertilizante muito caro, que nós poupamos e com um custo muito pequeno. Do inoculante e também do uso de micronutrientes, que são fundamentais para que esse processo ocorra, principalmente o molibdênio, o cobalto, o manganês, o cloro, nós podemos ter isso aí. Agora, nós depois associamos já esse Bradyrhizobium também com outros microorganismos, como, por exemplo, Azospirillum, na chamada coinoculação. Esse Azospirillum, ele faz parte das bactérias promotoras de crescimento, produz uma grande quantidade de hormônios e esses hormônios, principalmente a auxina, estimulam o enraizamento da soja. Aumentando o enraizamento, aumenta a absorção de todos os nutrientes, mais eficientemente. Mas também aumenta a formação de nódulos do Bradyrhizobium. Agora, nós já temos há questão de 3 anos no mercado, microorganismos também para a liberação de fósforo. Os nossos solos brasileiros, de norte a sul, de leste a oeste, tirando algumas pequenas regiões, eles são pobres em fósforo disponível, aquele fósforo prontamente absorvível pela planta. Mas, na verdade, nós temos uma enorme quantidade de fósforo fixada, ocluída. E nós temos microorganismos, por exemplo, do gênero das micorrizas, fungos de micorrizas, bactérias, do gênero bacilos, que liberam enzimas no solo, as fosfatadas, ácidas, que liberam esse fósforo. Então, esse é um outro fator importante que deve ser adotado cada vez mais, porque o Brasil é um grande importador de fertilizante de fósforo. Aí veio o quê? Nós temos hoje, microorganismos, que podemos colocar um solo para aumentar também a disponibilização de outros nutrientes, como enxofre, a liberação, principalmente, da matéria orgânica. Nós temos microrganismos para controle biológico de patógenos, microrganismos para o controle biológico de pragas, ou seja, nós estamos entrando na era da agricultura biológica. Isso não quer dizer que nós vamos abandonar totalmente o inseticida, o fungicida. Mas, é uma ferramenta muito importante, que é economicamente viável, que é ambientalmente espetacular, para ajudar no sistema integrado de controle de pragas, sistema integrado de controle de doenças.

    Aline Araújo: O Sr. falou a respeito do fósforo e do nitrogênio. E pensando no modo de ação de alguns biológicos, qual que é a importância da solubilização do fósforo e a melhor fixação do nitrogênio, como que isso contribui para o aumento da produtividade?

    Elmar Luiz Floss: Nós sabemos que a expressão do potencial genético dos cultivares depende de vários fatores, mas especialmente da nutrição adequada. E a cultura da soja, como eu já falei, ela é altamente exigente em nitrogênio. Então, a prioridade do produtor deve ser de que essa fábrica, que são os nódulos, que é a maior fábrica de fertilizantes nitrogenados do Brasil, se a gente for olhar a produção e considerar a necessidade por tonelada produzida de nitrogênio e também a eficiência de 85%, ela é uma coisa espetacular. Então, isso é uma economia para o Brasil e nós sabemos que o fertilizante nitrogenado, mesmo que ele seja necessário em algumas situações, do que 15%, em média, a soja tem que retirar do solo, ele é importado e ele tem um custo elevado. Então, investir em reinoculação, quer dizer, não deixar de inocular, sempre colocar uma cepa nova, que é mais eficiente, que forma nódulos maiores, nódulos maiores na raiz principal, que são os nódulos mais eficientes. Fazer a coinoculação com Azospirillum e, estão vindo aí também Pseudomonas e, sei lá, quanto nos próximos anos novos organismos vão ser colocadas, dessas bactérias promotoras do crescimento, que ajudam nisso aí. E, no caso do fósforo, isso é uma coisa extraordinária, nós termos o fósforo no solo, mas absolutamente indisponível para a planta e ele poder ser solubilizado. Então, é uma tecnologia realmente promissora que chegou para a cultura da soja.

    Aline Araújo: A fase de desenvolvimento das plantas é uma das mais importantes para o resultado final da lavoura. Quais práticas podemos adotar para melhorar o desempenho das plantas e como que os produtos biológicos podem auxiliar nesse processo?

    Elmar Luiz Floss: Os produtos fixadores de nitrogênio, de fósforo, eles devem ser colocados no solo para que, quando houver emergência, eles já comecem a contribuir para a nutrição adequada. Tratamento de sementes, mas nós já estamos com excesso de calda, é muito difícil e, realmente, a melhor técnica é a aplicação desses produtos como Bradyrhizobium, Azospirillum, Pseudomona, bacilos na linha de semeadura, com equipamentos usando, pelo menos, 40, 45 litros de calda por hectare, para que eles deem essa condição de desenvolvimento inicial. Os produtos biológicos, aí nós temos que olhar a natureza do produto biológico e para qual foco nós queremos colocar. Por exemplo, vou dar um exemplo, o Tricoderma, que é um fungo que controla uma série de patógenos no solo. Esse, nós temos que fazer uso dele em várias épocas do ano, para ele ir fazendo esse controle biológico e baixar a pressão de inóculo. Então, o ideal é já aplicar antes da semeadura, principalmente para pegar esses patógenos. Pode ser também colocado na parte aérea, dependendo agora de qual patógeno nós temos. Para as pragas, aí é um pouco diferente, porque os microorganismos que controlam pragas, eles se multiplicam sobre a praga, então a gente não aplica ele preventivamente. Produto biológico para controle de doenças, a gente pode usar preventivamente. O de praga tem que existir a praga, para que a praga se contamine, então, pelo microorganismo. É nessa praga que o microorganismo se multiplica para, aí, diminuir as defesas. Então, não é preventivo, e também tem que ser na fase inicial, fazer o monitoramento, quando a população ainda é baixa, entramos com produto biológico. Quando eu perdi o timing, ou seja, a praga já tomou conta, não adianta colocar o biológico, aí infelizmente nós temos que entrar com o produto químico, de ação imediata, porque aí não tem mais condições de controle. Então, depende da natureza do produto biológico e depende para qual objetivo eu quero usá-lo.

    Aline Araújo: A gente entendeu, até aqui que fornecer nutrientes na fase de desenvolvimento das plantas contribui para garantir que a colheita seja bem-sucedida. Práticas como a adubação de cobertura e foliar biológica auxiliam no rendimento das plantas?

    Elmar Luiz Floss: Sim, sem dúvida, sem dúvida. Por exemplo, para macronutrientes, a base da nutrição deve ser na semeadura ou, então, em cobertura. Por exemplo, o potássio, que é altamente salino e nós precisamos usar quantidades crescentes de potássio para obter altos rendimentos, ele é, depois do nitrogênio, o segundo macronutriente que a planta mais necessita, é importante colocar ele a lanço por causa da questão de salinidade. Talvez uma pequena quantidade na linha de semeadura, quando os teores de potássio ainda no solo, eles estão abaixo de 3% da CTC, certo? Enxofre, podemos perfeitamente aplicar a lanço, nas mais diferentes formas que ele existe. Agora, os micronutrientes, nós podemos usar eles sólido, a lanço, na semeadura, mas muito micronutriente se aplica via foliar, ou seja, uma injeção na veia. Os melhores produtos são aqueles quelatizados, onde tem a maior eficiência de absorção pela planta, mas é muito importante para os micronutrientes, que são imóveis dentro da planta, que a gente faça essa aplicação parceladamente. E os produtos biológicos podem ser associados, ou seja, fazer uma fertilização biológica aplicando na parte aérea, sim; tanto aqueles que são biofertilizantes, aqueles microorganismos que ajudam à liberação de nutrientes no solo, como também aqueles que vou usar para o controle de patógenos ou o controle de pragas. Mas, nesse caso, é sempre muito importante somente fazer a aplicação à tardinha ou à noite, quando a temperatura é baixa, de preferência, antes de uma chuva, pois se nós aplicarmos esse produto biológico numa planta, por exemplo, com estresse hídrico, ainda com temperaturas muito elevadas, na hora mais quente do dia, umidade relativa baixa, aí geralmente, a sobrevivência desses microorganismos é muito menor.

    Aline Araújo: A gente infelizmente está chegando no final do nosso bate-papo e eu queria fazer uma última pergunta para o Sr. falando a respeito do manejo sustentável. Quais são os desafios que os produtores estão vivenciando hoje e como que a tecnologia pode ser aliada pela caminhada de uma agricultura mais sustentável?

    Elmar Luiz Floss: Bom, os altos rendimentos da soja, eles dependem de 53 fatores, sejam os fatores genéticos, fatores climáticos, fatores de solo, fatores sanitários e os fatores de manejo. Como são muitos fatores, é um tabuleiro difícil de jogar. Eu sempre gosto de comparar que o tabuleiro de xadrez, que tem 16 peças para cada jogador, portanto, 32 peças, poucos jogam xadrez, porque acham muito difícil. E o tabuleiro do alto rendimento da soja tem 53 peças para mexer; então, muito mais do que as 32 do xadrez. E o pior é que, no manejo da soja, visando alto rendimento, tem algumas peças que não dependem do produtor: a peça da chuva, da temperatura, da umidade relativa, da insolação; que é avaliado. Então, ainda nós dependemos de fatores que estão fora de nosso alcance. Estamos na era da chamada agricultura de precisão. Eu gosto mais de falar de agricultura com precisão. Agricultura de precisão nos lembra a enorme, o extraordinário avanço de equipamentos, de GPS, do uso do computador, do satélite e nossas máquinas de semeadura, nos tratores, na colhedora, no pulverizador. Mas nós precisamos associar essa nanotecnologia eletrônica com a nanotecnologia biológica. Começa que nós estamos usando predominantemente da soja cultivares transgênicos e isso continuará, teremos muitos eventos biotecnológicos no futuro. Ora, coloca nanotecnologia nisso aí, que é o DNA recombinante, mexendo com biologia molecular, mas também o uso de micronutrientes, que para altos rendimentos se tornam importantes, eles que não eram importantes para baixos rendimentos. O uso de bioativadores, os biorreguladores, os bioestimulantes, ou seja, substâncias, sejam produtos hormonais, sejam bons extratos de alga, que são estimuladores do crescimento, desde a formação de raiz, da ramificação, do aumento do pegamento, da diminuição de estresse. Ou seja, agricultura com precisão para mim é juntar essa nanotecnologia eletrônica com essa nanotecnologia biológica. E isso o agricultor tem que estar atento, ou seja, nós precisamos produzir mais, nós temos que aumentar o rendimento da soja no Brasil de 2021, 2022 até 2050, desses 5.329 kg para 8.300 kg/hectare. E como é que se faz isso? Com tecnologia.

    Aline Araújo: Muito bom. Esse foi o nosso episódio de hoje do Minuto Agro. Eu espero que vocês tenham gostado. Obrigada a você, ouvinte, por nos acompanhar até aqui e obrigada, professor, pela sua participação. A nossa conversa foi ótima. Queria abrir aqui um espaço para o Sr., para poder deixar alguma mensagem para quem está nos ouvindo, de alguma coisa que eu, eventualmente, não tenha te perguntado.

    Elmar Luiz Floss: Eu queria agradecer, mais uma vez, Aline, por essa oportunidade, por ter participado aqui com você deste podcast. Também espero que eu tenha contribuído para os nossos produtores e, especialmente, um voto de muita esperança a todos esses milhares de produtores da região sul, que agora estão sofrendo aí uma perda drástica de produção, de renda e, com todas as dificuldades,
    mas dizer para eles: não é a primeira estiagem, não será a última e nós temos que nos preparar para isso. Perdemos esse jogo, perdemos esse clássico, mas logo ali, já temos a oportunidade de fazer uma nova safra. Vamos agora ver o que nós podemos fazer de melhor, qual é a melhor tecnologia. E eu sempre acho que isso tem que ser feito com 4 verbos de ação: diagnosticar, para saber exatamente onde está o meu problema, a minha limitação ao rendimento. Definido o problema, inovar, ou seja, buscar a melhor tecnologia que tem no mercado, olhar no para-brisa e não no retrovisor do carro, ter a coragem de aplicar, porque quando é uma tecnologia muito nova, todos têm medo: “Poxa, mas ninguém usa”, “Será que isso é bom?”, tem que ter coragem, os pioneiros sempre são aqueles que avançam e puxam o desenvolvimento e, finalmente, avaliar sob o ponto de vista técnico, sob o ponto de vista financeiro. Muito obrigado e um grande abraço a todos.

    Aline Araújo: Muito obrigada, professor. Esse episódio teve produção e colaboração técnica de roteiro de pauta do supertime de comunicação da Indigo.
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