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    Episódio 5: Especial Sucessão Familiar - Passando o Bastão

    Neste episódio do Minuto Agro, o Podcast do Agronegócio, vamos dar continuidade aos conteúdos especiais em comemoração ao Mês dos Pais, falando ainda sobre sucessão familiar no agronegócio. Participam deste episódio Luiz Augusto de Almeida Campos, proprietário da Fazenda Bella Terra, que produz cafés especiais no interior de Minas Gerais, e Victor Monseff de Almeida Campos, seu filho e quem está assumindo a posição do pai no controle da fazenda.

    Transcrição

    Aline Araújo: Bem-vindos a mais um episódio do Minuto Agro – é questionando que evoluímos, o podcast da Indigo. Eu sou a Aline Araújo, da Indigo e vou hoje vamos falar mais sobre os desafios da sucessão familiar dentro do agronegócio, ao lado de convidados especiais, continuando com os conteúdos especiais do mês dos Pais.

    Aline Araújo: No episódio de hoje vamos dar continuidade na conversa sobre sucessão familiar e seus desafios. Para conversar sobre o assunto com a gente, hoje temos dois convidados especiais. O senhor Luiz Augusto de Almeida Campos, também conhecido como Duda, produtor rural da fazenda Santa Paula e Bela Terra, produtora de cafés especiais no interior de Minas Gerais. E Vitor Monseff de Almeida Campos, seu filho e quem está assumindo a posição do pai no controle dos negócios da família.


    Sejam muito bem-vindos no episódio de hoje do Podcast Minuto Agro.

    Victor Monseff: Olá Aline e todos que estão nos ouvindo! É um prazer pra gente estar aqui e tentar compartilhar um pouquinho do que a gente passou! É um prazer estar com vocês.

    Luiz Augusto: Boa noite, Aline. É um prazer estar com você aqui! Muito obrigada pelo convite, e estamos aqui, a disposição, falando um pouco de Agronegócio, e um pouco sobre sucessão familiar.

    Aline Araújo: Obrigada vocês por estarem aqui, por terem aceito nosso convite! E para começar o nosso bate-papo, eu queria que vocês contassem um pouco, principalmente você, Senhor Luiz, como que é a sua história dentro do Agronegócio. Como surgiu o interesse pelas fazendas de café?

    Luiz Augusto: Bom, Aline. Tudo começou, com a Ribersolo, Laboratório de Análises Agrícolas, na mesma hora que eu estava montando o laboratório e começando, eu trabalhei em multinacionais, durante 10 anos, trabalhei 10 anos da Dupão. E na época, tudo que a gente ganhava, eu investia no laboratório. E minha esposa, mãe do Victor, é farmacêutica bioquímica né, formada aqui na USP em Ribeirão Preto, e eu fui estagiário do departamento de fertilidade de solos na Unesp de Jabuticabal, durante os 5 anos de escola. Então, eu já estava voltado para este lado, e tinha o sonho de mexer com laboratórios. E como na faculdade eu fiz muitas experimentações em diversas culturas, eu sempre sonhava em ter a minha área de produção, independente se era soja, milho, que eu fiz experimentação, citrus e café. Eu trabalhei com todas essas culturas durante os 5 anos de escola, através de experimentações. E eu tinha a vontade, então logo, mas logo que a gente montou o laboratório, alguns anos depois, eu comecei a dar consultorias também, basicamente em citrus, e todo dinheiro que sobrava, eu investia em terra. Então eu comprei uma áreazinha pequena, primeiramente no Paraná, cheguei até a plantar maçã no Paraná, e depois vendi lá e comprei uma área aqui, primeiro em São Paulo, um sítio pequenininho, e depois vendi também e comprei a área que é nossa até hoje, que era uma área menor, e que ao longo desses 35, 37 anos que nós estamos com a Santa Paula e Bela Terra, a gente foi ampliando a área de produção.

    Aline Araújo: 40 anos é pouco tempo, né? Magina! Uma vida inteira. Que bacana! E como que aconteceu o ingresso dos seus filhos dentro dos negócios da família?

    Luiz Augusto: Desde o começo, Aline, eles participaram de todo esse processo, né? Eles criancinhas, já participavam. Já ia no laboratório, sabe? E ia brincar no laboratório, que a vida da gente sempre foi muito corrida, né? Às vezes, a empregada saia e eles iam para o laboratório, né? Ficavam ali com a gente convivendo naquele ambiente de trabalho, e da mesma forma foi na fazenda. Eles iam para a fazenda, normalmente. No começo, era de final de semana, e eles convieram toda a infância na fazenda, tanto o Victor quanto minha filha, que é um pouco mais velha que o Victor, que é farmacêutica também, igual a mãe. Por isso que tudo foi se realizando em torno, de fazenda, com diversas culturas que temos hoje, e Ribersolo que foi a base inicial de tudo isso.

    Aline Araújo: E na sua opinião, qual é o impacto da criação e dentro dessa convivência toda que o senhor explicou para gente que acontecia, para que seus filhos se interessassem a participar das empresas?

    Luiz Augusto: A gente fez tudo com muito amor. Tudo que nós fizemos, tanto nossa atividade na Ribersolo, como a atividade de produtor rural. E tudo crescendo assim, gradativamente. E eles participaram de todo esse processo. Se eles não gostassem, talvez até já tivessem saído fora do negócio há mais tempo, você observa isso em outros lugares, em outras famílias. No nosso caso não aconteceu isso, acho que os exemplos que nos estamos dando tanto na Ribersolo, como nas propriedades rurais, foram exemplos bons que os fascinaram e hoje estamos os quatro juntos.

    Aline Araújo: E quando e como o Sr. entendeu que era a hora de passar o bastão da gestão dos negócios para os seus filhos?

    Luiz Augusto: Os dois vieram se preparando, sabe? Nada que a gente falou, vai se preparar para isso ou para aquilo, a única coisa que a gente achava, eu e a Regina, mãe deles, é que eles deveriam trabalhar para outras pessoas antes de virem trabalhar no nosso negócio. Eles precisavam ser mandados em outro lugar para depois mandar e saber mandar. Até para poder ver a dificuldade que é. Então eles foram trabalhar, minha filha foi para a Indústria farmacêutica, Victor foi para a Cargill e ficou um bom tempo, e depois disso o Victor e a Marina fizeram vários MBAs, Victor foi até morar nos Estados Unidos, posteriormente fez o mestrado na Itália, ele vai falar posteriormente. E também teve a oportunidade fantástica, na minha opinião, que foi internacional, de conhecer vários países do mundo, conheceu várias culturas e vários jeitos de tocar a agricultura no mundo. Ele tem uma percepção muito boa, coisa que inclusive eu não tive porque eu não tive essa oportunidade, e ele tem tudo isso. Isso foi engrandecendo e vendo e amadurecendo para eles que talvez fosse uma boa opção assumir um negócio que já estava rodando. Que era ligado tanto ao laboratório, quanto a atividade agrícola né? E eu acho que é por aí.

    Aline Araújo: E nesse processo de transição, vocês contrataram alguma consultoria especializada para suportar esse processo de sucessão?

    Luiz Augusto: Obrigatoriamente. Obrigatoriamente, a gente acha que tem que contratar consultorias especializadas em cada área. Hoje nós temos tanto na parte de gestão e de elaboração, da nossa sucessão familiar, quanto até nas culturas individualizadas. Dentro da fazenda, o café, abacate, lúpulo, nós temos consultores especializados, que nos ajudam na tomada de decisões.

    Victor Monseff: Pegando o gancho nisso, Aline, uma coisa que a gente percebe muito é que tanto a consultoria na parte focada de sucessão, criação de governança, e toda a área realmente do processo de sucessão, mas além disso, uma coisa que pra gente foi muito interessante, foram consultorias também dentro de cada negócio, que fossem de confiança das duas gerações. Porque, na parte de sucessão, entrou uma consultoria muito na linha dos relacionamentos, planejamentos, estratégias, visão de futuro e tudo mais, intermediando isso tudo, mas todas elas refletiam dos negócios rodando em cada área e cada área precisava ter sucesso para que tudo acontecesse. E aí a gente tem também, que é isso que meu pai traz, que são nossos braços direitos como consultores, em cada negócio, que davam confiança também, que na parte técnica, a coisa estava rodando. Então, eu acho que a combinação da parte técnica, com os consultores e o nosso time rodando e aí isso chegando na ponta final dos processos de governança também com uma consultoria especializada, eu acho que a junção deste processo todo, foi o que realmente conseguiu conectar várias engrenagens. E não simplesmente querer contratar um processo de consultoria para fazer a sucessão acontecer, mas sem o restante do negócio estar acontecendo. Assim, a junção de todas essas engrenagens que fizeram muito sentido para gente.

    Aline Araújo: E na opinião de vocês, quais são os principais fatores que podem prejudicar este processo de transição e inclusive a continuidade dos negócios para gerações futuras?

    Luiz Augusto: Eu acho que você tem que estar, tanto nós como nossos filhos, estar focado no mesmo objetivo. De correção, de honestidade, de sustentabilidade. Se você não tiver uma linha mestre a ser seguida, ou se essa linha mestra é discordante, realmente eu acho que complica um pouco esse processo de sucessão. Nós, graças a Deus, sempre estivemos alinhados com isso. E as possíveis arestas que tiveram ou que tem, a gente utiliza estes consultores especializados para nos ajudarem.

    Victor Monseff: Eu vejo disso, Aline, eu acho que um grande ponto nessa história, é o tempo. Eu acho que tudo no processo sucessório que a gente quiser fazer com a velocidade muito rápida, ele tende a ter uma chance de insucesso maior. Porque eu acho que precisa de maturidade no processo, das duas partes. Tanto no sentido da maturidade de ganhar experiência, da geração mais nova, como de maturidade do processo sucessório de quem já tem muita experiência e precisa passar o bastão, e levando isso com tempo. Então eu acho que as duas partes precisam ganhar experiência com o processo de sucessão, então eu acho que o tempo é um negócio muito importante, que o tempo precisa rodar. E os alinhamentos mesmo, eu acho que todos precisam estar alinhados no mesmo caminho. Muitas vezes eu vejo, às vezes, querer começar processos de sucessão, e eu acho que ele tem que acontecer com todo mundo entendendo aonde a gente quer chegar e o que que nós buscamos. E quando eu falo isso, não é só o alinhamento dos negócios, mas a gente sempre colocou muito em todas nossas reuniões, aonde a família é a parte mais importante do processo de sucessão. Então assim, nós, sempre que tivesse qualquer aresta, a família precisava sempre ser pensada, que ela estava em primeiro lugar. E aí sim, a gente iria contornando as situações e contornando tudo, mas sempre com o pilar principal. Acho que assim, esse alinhamento, de onde nós estamos, aonde queremos chegar, quais são os valores que a nossa família e empresa e que tudo tem, e fazer com que isso tudo se encaixe com calma e durante um tempo, eu acho que isso é muito importante. Eu acho que o afobamento neste momento, de querer fazer acontecer é uma das maiores dificuldades e desafios aí.

    Aline Araújo: E neste processo, qual que é o papel da inovação e tecnologia?

    Victor Monseff: Pegando da minha parte, eu acho que a inovação e tecnologia tem um papel fundamental porque ela trás muita mudança e ela é muito positiva. E eu acredito que ela tem dois pontos, porque muitas vezes ela gera um desconforto quando, às vezes você tem uma geração anterior que não tem tanta facilidade de trabalhar com algumas coisas, com alguns mapeamentos ou coisa do tipo, mas aí entra realmente a questão da conexão, da gente conseguir mostrar o que faz sentido, para quê faz sentido e como a gente opera essas novas coisas e aonde a gente quer ir. Mas, eu acho que faz muito parte da nossa geração mais nova entender as dificuldades que se existem de operação e de tudo mais, que às vezes a facilidade que a gente tem não é a mesma das outras gerações, ter noção disso é muito importante. Só que ela é algo fascinante, ela abre muita porta, para muita coisa acontecer.

    Luiz Augusto: Da minha parte, eu acho que tecnologia, avanços tecnológicos, eu acho que é tudo, viu, Aline? A pessoa que hoje parar um pouquinho no tempo, já tá ficando para trás. Eu sempre fui muito para frente, apesar de ser mais velho, eu sempre pensei muito antes, mexia com experimentação na faculdade, produtos novos para serem desenvolvidos, muitos destes produtos de quando eu mexia com desenvolvimento, sucessos comerciais nas empresas que os detinham né, a patente, então eu sempre pensei muito lá na frente em termos de... Há 40 anos atrás, quando nem tinha e nem ninguém falava muito sobre consultoria, eu já dava consultorias particulares, sabe? Em Laranja e Citrus, tive muitos clientes de consultoria. Hoje é muito comum falar em consultoria, mas na minha época, há 40 anos atrás, era pouco comum. Até tinham consultores, mas não era com essa diversidade que se existe hoje né, e eu já dei consultoria há 40 anos atrás, 43 anos atrás.

    Aline Araújo: Victor, seu pai mencionou a respeito da sua vivência internacional, da sua vivência da Itália... E pensando um pouco em toda essa caminhada, como foi o processo de preparação para o ingresso nas empresas da família?

    Victor Monseff: Eu sempre pensei muito que eu precisava estar bem preparado, independente se eu fosse vir para os negócios da família ou não. Eu sempre acreditei muito nisso e sempre quis buscar me preparar e aprender por isso. E uma das primeiras coisas que a gente sempre falou foi sobre trabalhar fora, então eu trabalhei na Cargill durante alguns anos, esse período para mim lá foi uma baita bagagem de vida, sou extremamente grato a tudo que eu aprendi lá. E quando eu retornei para os negócios da família eu quis sempre continuar mantendo um pouco desse braço fora e aprendendo também fora. Então, eu busquei e quis aprender mais sobre gestão, então me formei na UNESP de Jaboticabal, eu quis buscar e entender um pouco de outras áreas em outros lugares, então eu busquei uma pós-graduação em agronegócio do PESEG, que é o departamento de economia da ESALQ. Para mim, solos é a base de tudo, tanto pela Ribersolo quanto pelas fazendas, eu acredito que solo é a grande base de trabalho então busquei minha especialização em solos também na ESALQ. E isso sempre moldando nossos negócios, e em paralelo com isso, eu tive a oportunidade de um mestrado na Itália, que é uma parceria da Lilly Café com a Universidade de Trieste, fiz um mestrado de cafeicultura na Itália, acabei sendo convidado para ser professor e fiquei como professor convidado durante 3 anos dando aulas lá, e aí nisso tudo eu fui construindo a minha cabeça tanto acadêmica, vamos falar assim, quanto criando conhecimento, quanto realmente trabalhando. E em 2018 eu tive uma oportunidade de pegar uma bolsa da NUF International, que foi um grande divisor de águas para mim. Aonde a NUF é um programa de conexão de pessoas no Agronegócio do Mundo. E existem várias pessoas no mundo que são selecionadas, geralmente 2 a 3 brasileiros entram no projeto e em 2018 eu fui um deles, com o tema de fertilidade do solo e nutrição de plantas, saúde de solo, que é o que a gente poderia aprender com os outros países. E aí, nesse tempo eu fui para 16 países diferentes, buscando visitar laboratórios, empresas de agricultura de precisão, fazendas, produção agrícola como um todo. Então, realmente entender como que funciona o Agronegócio mundial. E isso, sempre rodando os nossos negócios, todos esses desafios foram fazendo com que eu tivesse que aprender e melhorar e como gerir o meu negócio para poder continuar criando essa bagagem. Então, eu acho que a preparação para mim, tanto no sentido de continuar sempre buscando conhecimento, buscar a experiência internacional, e também buscar ao mesmo tempo experiências de outras empresas, e sempre tocando o nosso negócio e dando tempo para isso, que para mim foi o que mais me deu bagagem e confiança, tanto para mim, de assumir as rédeas do negócio e cada vez mais tocar e saber que a gente vai dar perpetuidade para os nossos negócios como um todo e com toda essa visão de mundo e tudo mais, mas principalmente gerar confiança na minha família de que a gente estava buscando ir para o caminho certo. Então, trazendo exemplos de outros lugares, exemplos de outros produtores, relacionando com bastante gente. Isso foi sempre o que eu busquei muito, eu sempre quis me capacitar e estar bem preparado, independente se eu fosse assumir o nosso negócio ou qualquer outro negócio. Essa foi sempre a minha cabeça.

    Aline Araújo: Bom, você falou bastante sobre capacitação, né? E vocação? Vocação é importante? Porque ser gestor e assumir a gestão de um negócio vai muito além da disposição de cada um. Existe capacitação para desenvolver vocação empresarial?

    Victor Monseff: Vocação... é um pouco complexo, eu acho, pensar nisso. Porque eu acredito muito que a gente tem que fazer o que a gente gosta, mas muito mais do que isso, a gente tem que gostar do que a gente faz. E eu acho que é um pouco diferente. Eu até dou como exemplo de vez em quando que eu gosto de fazer churrasco, mas isso não quer dizer que eu tenho que viver de fazer churrasco. Mas eu preciso gostar do que eu faço, e estar na frente da empresa Ribersolo, estar na frente das fazendas, estar na produção agrícola, viver aquele dia a dia da terra, correr os riscos que a gente corre como produtor, você tem que gostar disso. E eu acho que, quando você gosta do que você faz, você faz muito melhor. Então, eu acredito que a gente tem que se desenvolver, a gente tem que se capacitar, e eu acho que é lógico que tem gente que tem mais é, vamos falar, um dom original maior ou menor e a gente consegue se capacitar. Mas o que eu acredito muito é que fazendo o que você gosta, muito mais do que você só ter o dom, porque você pode até ter o dom para aquilo, mas você não gosta muito daquilo. Então, eu acho que fazer o que você gosta, e principalmente gostar do que você faz, é muito importante para mim, para você realmente conseguir ter sucesso no que você está fazendo, na sua empresa. E inclusive, eu acho que na sua família aí como um todo. Então eu acredito bastante nisso, em procurar muito gostar do que a gente faz. Eu acho que esse é um ponto muito importante.

    Aline Araújo: E Sr. Luiz, como que a gente faz para motivar os mais jovens a despertar os interesses pelos negócios da família para que seja viável uma futura sucessão?

    Luiz Augusto: Eu acho que isso aí é muita coisa, né? É desde o começo, lá trás quando eles eram crianças, você colocar eles já no negócio, vai colocando eles no negócio e você vai já percebendo, você já vai, de uma certa forma, sem forçar, você já vai direcionado para aquela atividade que você realiza. Então, eu não acredito que a pessoa que não goste nada da agricultura vai conseguir tocar a agricultura. Mas você, lógico, ajuda a pessoa a gostar, né? Você, desde que nasceram, convive dentro da atividade, sabe? Eles vão selecionando, até dentro da atividade, aquelas coisas que eles mais gostam. Então eu acho que tem muita honestidade durante todo esse processo, muito empenho nosso, todos esses exemplos vão servindo para eles tomarem a decisão. Se ficam ou se não ficam no negócio.

    Aline Araújo: É comum, a gente vê aí muitos negócios sólidos, com bons resultados, se perderem, principalmente no processo de passagem da segunda para a terceira geração. Existem algumas estatísticas que falam que 30% das empresas chegam até a segunda geração, mas que só 5% alcançam a terceira. Como que vocês pensam isso dentro do negócio da família de vocês?

    Victor Monseff: Aline, eu vou falar aí porque eu tenho bastante contato, vamos falar, com a terceira geração que esta vindo por aí. E uma coisa que a gente pensa bastante, e eu olho muito para isso e a gente discute sobre essa questão. Eu acho que eu não tenho muito como saber se eles vão querer vir para o negócio ou se eles não vão, ou como que vai ser, porque isso está muito distante. Nós temos, a minha irmã tem a mais velha está com 6, 7 anos, e o meu, que é o mais novo, está com 1,5. Então, nós estamos com uma distância grande ainda de lá. O que a gente acredita muito? Que o princípio e os valores têm que ser os mesmos. Então se a gente tem um negócio forte, uma empresa forte, e isso a gente se preocupa muito, para deixar a Ribersolo forte, as fazendas fortes, eu acho que esse é um primeiro ponto. E quando as empresas estão com os mesmos valores que a gente tem na família, então quando a gente trabalha dentro das nossas empresas com os pilares de ética, de honestidade, de qualidade realmente em tudo, seja qualidade nos processos de análises, dos produtos que a gente produz nas fazendas, a qualidade dos relacionamentos que a gente tem com as pessoas e tudo, quando você alinha os mesmos valores com valores que estou criando os meus filhos, que a gente cria essa nova geração, eu acho que eles já tem um primeiro ponto em comum quando chegar lá na frente, que são os mesmos valores entre pessoas e negócios. E eu acho que quando a gente consegue fazer isso, a gente tem um primeiro passo. Se isso lá na frente eles vão entrar e vão querer realmente tocar o negócio, e entrar realmente para dentro, fica a cargo de voltar no que a gente acabou de falar um pouquinho que é sobre se eles vão ser felizes e vão gostar de tocar isso? Eu acho que esse é o grande ponto, mas se eles já compartilham os mesmos valores, a possibilidade é muito grande. E aí eu pego um outro gancho agora, que provavelmente o que vai ser o sucesso da empresa na geração deles é diferente do que eu estou fazendo hoje. E as mudanças que nós temos hoje do que os meus pais faziam, é o que vai fazer com que a gente chegue a ter essa passagem de bastão para eles. Então, isso eu acho que fica uma questão muito grande de que é não necessariamente a gente precisa continuar tocando do mesmo jeito, e inclusive eu acho que muito pelo contrário, se a gente não está pronto para mudar a maneira como os negócios vêm, é ai que a gente gera a não perpetuidade da coisa. E essas mudanças têm que acontecer, só que quando essas mudanças acontecem com os mesmos pilares de valores, isso continua acontecendo. Quando os pilares e os valores são diferentes, aí sim tudo entra em choque. Então a gente esta muito mais preocupado em criar boas pessoas e boas empresas do que pensar se elas vão estar conectadas ou não lá na frente.

    Aline Araújo: A nossa conversa infelizmente está se aproximando do fim. Então, eu gostaria de fazer uma ultima pergunta: qual que é a mensagem que vocês deixam para os produtores que estão nos ouvindo, que estão se preparando para passar a gestão dos negócios para a próxima geração?

    Luiz Augusto: Bom, falar de trabalho para o produtor rural é redundância. Porque todo produtor rural trabalha muito. Muito trabalho, seria a frase que eu falaria, muito trabalho, que é o que o produtor já faz. Tanto é que a gente vem mantendo o Brasil nessa condição que está, graças a agricultura, graças aos nossos agricultores e pecuaristas. E toda a cadeia que está em volta deles. Muito trabalho, muita seriedade e muita sustentabilidade nos negócios, que também é importante, não podemos pensar só em uma maneira pontual, precisamos pensar no todo, como sistema. E bons exemplos, que é o que o produtor rural deixa, para todo o filho, se tem uma coisa produtor rural deixa é bons exemplos. É por aí, eu acho.

    Victor Monseff: Bom, o que eu olho muito disso, eu acho que alguns pontos que são extremamente importantes para a gente conseguir fazer essa passagem, e o que eu vejo da nossa parte aqui, falando para a geração mais nova, eu acho que o primeiro ponto é calma, que nós temos bastante tempo pela frente. E a gente muitas vezes acha que sabe tudo e nós estamos muito longe de realmente saber tudo. Então, calma, vamos pegar experiência, vamos adquirir... vamos realmente criar experiência e bagagem porque tem muita coisa que só o tempo faz acontecer. Então, dar tempo ao tempo e enquanto este tempo está acontecendo, se preparem e busquem ser os melhores. Busque ser o melhor no que você faz porque você vai acabar estando entre os melhores com isso e fazendo isso você vai pegar experiência e bagagem para que essa coisa aconteça. E junto com isso, tenham os valores. Tenham este tempo e tenham valores. Acreditem aonde a gente quer chegar, coloque eu acho que o mesmo alinhamento de toda família e principalmente, qual é o nosso principal valor? Nós queremos manter a família unida? Este é o nosso ponto principal? Então, sempre voltem ao que é o nosso valor principal sempre que os atritos aconteçam. E façam a sucessão por partes, eu acho que esse é um grande ponto. Então seja na empresa, pegando um pedacinho daquele setor, crie responsabilidade, faça aquilo acontecer, seja na fazenda com a mudança de manejo de um palhão específico, vamos mudar aquele palhão, vamos mudar aquela parte, aquele manejo, e aí com o tempo isso você cria bagagem, você ganha experiência e confiança, e isso vai acontecendo. E se amparem de pessoas boas ao redor, e pessoas que sejam de confiança mútua das duas gerações aí, eu acho que pessoas boas, seja na parte técnica, seja na parte da sucessão mesmo específica, mas tenham pessoas boas que vão gerar esse conforto e esse voto de minerva, vamos falar, no meio do caminho.

    Então eu acho que se amparem de pessoas boas, se capacitem, tenham a cabeça aberta, deem tempo ao tempo e uma coisa que eu acho muito importante no mundo hoje, vistam o calçado do outro, coloque os sapatos da outra pessoa, porque as vezes a minha angústia é uma, mas enxergue qual é o outro lado, qual é a angustia da outra pessoa, da outra geração. E eu acho que quando a gente começa a fazer esse exercício de enxergar um pouco o outro lado, a gente consegue ir chegando no meio do caminho, chegando num consenso, mas sempre eu acho que coloquem os valores em primeiro lugar e vão trabalhando em cima deste alinhamento e dê tempo ao tempo. Eu acho que para mim, isso vai fazendo com que as coisas aconteçam.

    Luiz Augusto: Aline, eu só gostaria de encerrar com duas palavras, que eu acho que são fundamentais na vida da gente. Uma é a paciência, tenha paciência que as coisas devagarzinho vão se resolvendo. E a outra é gratidão, que é uma palavra muito importante. Tenha gratidão pelas pessoas que te ajudam, sabe? Tenha gratidão por todos que os cercam, que eu acho que isso é fundamental na vida de todos nós.

    Aline Araújo: A nossa conversa foi sensacional, o episódio de hoje foi muito bacana! Eu espero que vocês tenham gostado. Obrigada, você, ouvinte por nos acompanhar até aqui, obrigada pela participação, Sr. Luiz e Victor, enfim. Queria deixar aqui agora um espaço para vocês deixarem as palavras finais.

    Victor Monseff: Eu queria, Aline, deixar inclusive de portas abertas! Eu espero que o nosso exemplo possa ser compartilhado, assim como a gente aprende com muita gente, vendo vários outros exemplos. E eu acho que a gente está muito longe de saber tudo, queremos continuar aprendendo muito! Então, a gente deixa as portas da Ribersolo, em Ribeirão Preto abertas, deixamos as portas das fazendas sempre abertas também. Então quem quiser conhecer a gente melhor, quem quiser trocar experiência e quem quiser dar sugestão para a gente continuar melhorando, eu acho que esse aprendizado e continuar melhorando, sempre de portas abertas e interagindo com as pessoas é tudo pra gente, é tudo na vida! Então estamos aí de portas abertas e espero ter contribuído e com certeza a gente sai daqui maior.

    Luiz Augusto: Eu espero ter contribuído de alguma forma aí, com os produtores rurais e com a Indigo, e queria agradecer novamente o convite, de poder participar e passar um pouquinho da nossa experiência para vocês. Então, um abraço aí e fiquem todos com Deus.

    Aline Araújo: Esse foi o nosso episódio de hoje do Minuto Agro. Eu espero que vocês tenham gostado. Obrigada a você ouvinte por nos acompanhar até aqui. E obrigada pela participação, Sr. Luiz e Victor, nossa conversa foi ótima!

    Aline Araújo: Este episódio teve produção e colaboração técnica, de roteiro e de pauta do supertime de comunicação da Indigo. Nos siga em todas as plataformas digitais para não perder nenhum episódio. E lembre-se, precisando aumentar a rentabilidade e a produtividade da sua lavoura, Simplifica! Fala com a Indigo.

    Aline Araújo: Terminamos aqui mais um episódio do Minuto Agro. Esperamos você no próximo!