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    Episódio 9: A evolução da participação das mulheres na gestão do agronegócio

    Neste episódio do Minuto Agro, o Podcast do Agro, vamos falar um pouco sobre a evolução da participação das mulheres na gestão do agronegócio. E para conversar sobre o assunto com a gente, temos uma convidada mais do que especial. Norma Rampelotto Gatto é uma das maiores produtoras rurais do país e referência em produção de soja no Mato Grosso, recém-eleita uma das 100 mulheres mais poderosas do Agro de acordo com a revista Forbes.

    Transcrição

    Aline Araújo: Olá, sejam bem-vindos a mais um episódio do Minuto Agro, é questionando que evoluímos, o podcast da Indigo. Eu sou a Aline Araújo, Head de comunicação da Indigo e esse é o espaço para você ficar atualizado sobre o que acontece no agronegócio no Brasil e no mundo.

    Aline Araújo: Outubro é o mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher Rural e que também acontece o Congresso Nacional das Mulheres do Agro, por isso preparamos um conteúdo especial com essa temática. E no episódio de hoje vamos falar um pouco sobre a evolução da participação das mulheres na gestão do agronegócio. Para conversar sobre o assunto com a gente hoje temos uma convidada mais o que especial, ela é uma das maiores produtoras rurais do país e referência em produção de soja no Mato Grosso, recém-eleita uma das 100 mulheres mais poderosas do Agro de acordo com a revista Forbes. Norma Rampelotto Gatto, seja muito bem-vinda ao nosso podcast Minuto Agro.

    Norma Rampelotto: Boa tarde, eu que agradeço imensamente estar aqui com vocês. Vou tentar corresponder às expectativas de todos.

    Aline Araújo: Ah, imagina. É um prazer ter você por aqui, eu inclusive tive a oportunidade de ler sobre a sua trajetória no livro das Mulheres do Agro e fiquei bastante impressionada pela sua história. Você pode, por favor, contar pra gente como que começou a sua carreira no Agro?

    Norma Rampelotto: É, vou começar. Eu sempre fui uma menina, assim, um pouco diferente, na minha casa mesmo, enquanto as minhas irmãs ficavam dentro de casa com a mãe eu vivia na rua brincando, correndo. Eu fui a primeira a vir com meu pai, eu devia ter o quê, uns 13 anos, quando eu vim no Mato Grosso, Dourados, Maracaju, ele queria comprar uma fazenda aqui. Naquela época, todo mundo dizia que ele era louco, porque Mato Grosso ainda não existia, era tudo Cerrado, só Mato Grosso do Sul que naquela época também era Mato Grosso. Então, eu vim com meu pai, ele olhou, não gostou, depois ele veio e comprou uma área aqui no Mato Grosso, que hoje é Mato Grosso. E o meu namorado na época veio abrir essa fazenda. E eu com 19 anos eu me casei e vim para cá, ficamos na fazenda do meu pai por mais um ano, dois, daí meu marido e meu pai não se entenderam muito bem. A gente foi, o meu marido foi tocar a fazenda que ele tinha acabado de comprar, uma fazenda pequena, de mil e poucos hectares, mas, nós fomos para lá, daí foi feito o desmatamento e tudo isso iniciou o plantio da safra de soja. E eu tive meus três filhos, nessa época eu vim morar na cidade, voltei a estudar, tive meus filhos, tive três filhos homens. Eu ia na fazenda mais para acompanhar o meu marido, levar as crianças para brincar, para interagir, para aprender a gostar do Agro também. E nesse período eu achei que quem ia assumir a sucessão seriam os meus filhos, mas infelizmente o meu marido veio a falecer. E eu tinha um filho mais velho de 17, de 16 e 9 anos, não tinham idade para assumir nada ainda. Todos de menor, eu tive que encarar e como a safra estava sendo implantada, eu digo, finalizei, vou ver o que que acontece, vou ver se eu tenho capacidade para isso, né? E nos primeiros dois meses o meu pai me ajudou, porque a gente tinha uma fazenda em Sorriso, Ipiranga do Norte, na realidade, e os bens foram todos trancados por causa das crianças, né? Então tinha que fazer pagamento de funcionário... Então, meu pai custeou tudo isso por dois meses para mim e o resto eu fui tocando, eu tinha um cunhado que que era sócio lá em Sorriso, depois tinha um concunhado que tocava a fazenda aqui, mas o meu marido ele era uma pessoa muito assim... Ele estava sempre à frente, ele não delegava muito. Então, todo mundo teve que aprender juntos, sabe, comigo, a fazer as coisas acontecerem. E a gente, aos poucos, foi entrando, eu fui fazendo tudo que eu podia, participando de cursos, de tudo, para me inteirar um pouquinho das coisas. Me senti um peixinho fora d'água, não por eu ser uma mulher, mas por não ter o conhecimento, né? Mas graças a Deus a gente foi se superando e um ano depois eu vim fazer parte de um grupo de agricultores que o meu marido já fazia parte, mas eu fiquei um ano afastada. Eu fui aprendendo com os outros, eu ouvia muito, eu questionava muito, até eu aprender um pouquinho.

    Aline Araújo: E isso já tem mais de 20 anos, né? Que você começou a sua carreira. Olhando para trás, o que que mudou em relação à participação das mulheres dentro do Agro, de quando você começou até agora?

    Norma Rampelotto: Nossa, hoje eu vejo, eu fico super feliz, né? Eu participo do Congresso das Mulheres, eu vejo aquela quantidade de mulheres interessadas, né? Isso me deixa tão feliz, porque antigamente era muito raro a gente ver uma mulher interessada em participar. Uma porque geralmente os pais eles são muito centralizadores, né? Eles tinham medo de passar adiante, só que hoje a cultura mudou, as coisas mudaram. Então, as mulheres estão adentrando e com uma capacidade, uma eficiência muito grande, mas eu fico muito feliz, porque nós somos capazes e temos competência para fazer as coisas acontecerem.

    Aline Araújo: Pensando na porta de entrada, você nos contou que no início da sua carreira, você teve a participação aí dentro de um grupo de produtores e que isso foi bem importante para o seu sucesso. Quais são os principais aprendizados que você carrega dessa fase?

    Norma Rampelotto: Olha, eu até hoje faço parte desse grupo, ele se chama Guará e é um grupo de análise e resultados. Não é uma competição, mas é uma forma de você se manter ao nível de todos, né? Aonde uma vez por mês a gente participa de uma reunião em cada fazenda e a gente vai visitar essa fazenda e a coleta de dados é total, né? Então a gente fica sabendo tudo que acontece ali ou as coisas que deram certo, as coisas que não deram. É o que eu falo sempre, a gente não precisa errar para aprender, a gente, às vezes, aprende com o erro dos outros. Então isso é muito bom, é você compartilhar, é você dar, é você receber, eu acho que tudo isso é fundamental na vida da gente, porque as coisas acontecem, cada um tem uma forma de agir e de pensar. E essa forma ela te traz benefícios e você ganha muito, você aprende, você dá, você tem essa troca, então, eu fiquei muito feliz, porque eu vi que eu tinha capacidade no momento que eu me comparava a todos eles, né? E eu me comparando a eles, eu ficava no mesmo patamar de todos eles, então isso para mim foi assim maravilhoso. Talvez se eu não estivesse nesse grupo, eu não visse o quanto eu estava indo bem, então essa troca de experiência é que me fez crescer cada vez mais.

    Aline Araújo: Olhando um pouco para as parcerias que você firmou ao longo desses anos, como que elas te ajudaram e ainda te ajudam no seu negócio?

    Norma Rampelotto: Olha, a gente dentro desse grupo, eu lembro que no primeiro ano eu não estava participando dos grupos, mas o pessoal e o meu marido já participavam, eles me ligaram, meu marido morreu em novembro, daí em janeiro um amigo ligou e disse assim: “Norma, você já fez a programação?”. Eu digo “O que é programação? Para que a programação?”. Ele disse “Não, você tem que saber o que você vai comprar para a próxima safra e tal, né? Você já tem que estar com os dados prontinhos”. Eu digo “Mas eu nem colhi ainda, como é que eu vou fazer?”. Daí ele disse “Não, Norma, é necessário, você vem aqui que eu te ajudo”. Daí eu fui lá, ele me ajudou e nós começamos a comprar em três fazendas juntas e aquilo foi fundamental para a gente, né? Daí nós montamos um grupo de compras, começamos a comprar, nós éramos em 10 integrantes e cinco agricultores começaram a participar e nós fizemos as compras juntos. A partir dali a gente abriu um centro, abriu para as outras pessoas, e hoje a gente compra para 200 e poucas mil pessoas, mas só pessoas com idoneidade, né? Então, a gente compra, a gente faz análise de resultados que você tem que ter a gestão na mão todos os anos e eu acho que isso faz da gente agricultores mais fortes e mais criativos.

    Aline Araújo: E além das parcerias, qual outra dica de sucesso para uma boa gestão dentro do agro?

    Norma Rampelotto: É fundamental, eu acho, você ter ao seu redor pessoas capacitadas, pessoas competentes. Eu tenho uma assessoria com um rapaz já faz vários anos, um rapaz, um homem, né? E a gente cada ano vai melhorando dentro da própria fazenda, tanto em investimentos, como metodologias diferentes de trabalhar, de agir, capacitar os funcionários cada vez mais, saber dos mínimos detalhes para que as coisas aconteçam. É muito trabalhoso, claro que é! Dá trabalho, é difícil, mas os resultados acontecem e a tendência é que todo mundo faça isso, né?

    Aline Araújo: Eu imagino que nesses mais de 20 anos que você assumiu os negócios da sua família, a aplicação da tecnologia na sua propriedade e na gestão tenha evoluído bastante. De que forma a aplicação de tecnologia tem influenciado por uma melhor gestão dentro do seu negócio?

    Norma Rampelotto: As tecnologias estão aí, né? A gente tem que se adequar, a gente tem que aprender a lidar com elas, porque não é fácil. Você tem que preparar a equipe para que isso aconteça, investir nelas e fazer acontecer. Eu acho que é fundamental. Se você ficar parado no tempo as coisas não vão acontecer. Então a tecnologia está aí para nos ajudar e para nos favorecer. Então vamos nos adequar e seguir em frente.

    Aline Araújo: É, você comentou no começo da nossa conversa que quando o seu marido faleceu, os seus filhos ainda eram adolescentes, crianças. Hoje, eles já fazem parte da gestão do negócio com você?

    Norma Rampelotto: Já, com certeza, hoje eu estou meio que aposentada sabe, eu fico mais na retaguarda, vou todo dia no escritório, ontem eu vim da fazenda e tal, mas eu os deixo tomar as decisões, porque eu aprendi com a dor que ninguém é insubstituível. Não é fácil a gente largar a mão das coisas, mas é necessário, então eu não queria que os meus filhos passassem pelas dificuldades que eu passei, que foram imensas. Um se formou em Agronomia, o outro se formou em Engenharia Agrícola e o outro em economia, e todos eles têm capacidade e eficiência para fazer as coisas acontecerem. E eu fico feliz da vida de ver isso acontecer, né?

    Aline Araújo: Muito bacana! E qual a mensagem você gostaria de deixar para as mulheres que estão nos ouvindo que tem vontade ou estão começando a sua carreira no agronegócio, qual que é o segredo para ter sucesso dentro dessa área?

    Norma Rampelotto: Ah, o sucesso é ter persistência, eu acho que você tem que, eu quero, eu posso e eu vou fazer! Porque não é fácil, né? Você tem que se dedicar, você tem que sentir o amor pelo negócio, persistir e não abandonar jamais, é uma coisa assim que não é rotineiro na vida da gente, no dia a dia, mas que quando você começa a fazer, você se apaixona, ele é gratificante, eu falo sempre que o Agro ele é vida, né? Você ver a planta germinar, o grão germinar, você ver ele se transformar. Você vê o animal também, desde pequenininho, nascer, crescer, né? Eu tenho muito dó de ter que acabar vendendo eles, mas isso é normal, então você vai para fazenda, você vê as coisas acontecerem, porque na fazenda é vida, mas precisa de muito empenho, muita dedicação. Mas não é impossível, é prazeroso, façam, se vocês têm vontade, não fique se intimidando porque você é mulher, você é capaz, siga em frente.

    Aline Araújo: Norma, eu queria agradecer a sua participação aqui, o nosso papo foi muito bacana. Queria agradecer demais a sua presença. Obrigada pelo bate-papo.

    Norma Rampelotto: Eu agradeço imensamente, peço desculpas, talvez não seja aquilo que as mulheres querem ouvir, mas dizer que a nossa vida ela tem muita coisa a ser feita, é melhor você fazer do que ficar estagnada. Então, siga em frente, minhas amigas, porque podemos, temos coragem, temos força e temos capacidade de fazer acontecer. Muito obrigada por tudo.

    Aline Araújo: Obrigada viu, Norma?! Esse foi o nosso episódio de hoje do Minuto Agro. Eu espero que vocês tenham gostado, obrigada você, ouvinte, por ter nos acompanhado até aqui e obrigada pela participação, Norma, nossa conversa foi ótima.

    Aline Araújo: Esse episódio teve produção e colaboração técnica de roteiro e de pauta do supertime de comunicação da Indigo. Nos siga em todas as plataformas digitais para não perder nenhum episódio. Terminamos aqui mais um podcast Minuto Agro, esperamos você no próximo.